Parece que virou moda falar de amamentação. Por mim podem falar à vontade. Falem bem, critiquem bem, mas falem.
Nasci numa geração de biberão. A minha mãe amamentou pouco tempo... eu era “muito comilona” e aquilo que pela descrição me parece ter sido uma mastite, fê-la desistir. Estava sozinha, não tinha informação, não teve ajuda. Talvez seja por isso que na minha experiência quase falhada de amamentação não pude contar com a sua ajuda. Ela simplesmente não sabia como me ajudar.
A minha sogra também não amamentou. “Não teve leite”. Na maternidade davam o último biberão à meia noite e depois era vê-lo chorar a meio da noite e tentar consolá-lo o mais que podia...
Sobrevivemos. Somos saudáveis e não nos faltou amor e carinho. Mas tanto a minha mãe como a minha sogra lamentam as suas experiências de amamentação. E é isto que eu gostava que cada vez acontecesse menos.
Não me preocupam as mulheres que decidem à partida que não querem amamentar. Se for uma escolha informada, cada uma faz o que quer com o seu corpo. A sério. Mas escolham bem as vossas fontes de informação e acima de tudo não amamentem só porque a amiga não o fez... a amamentação é um processo profundo, de conhecimento e redescoberta do nosso instinto. Ou seja, esta fórmula não resulta para pessoas avessas à mudança. Mas ter um filho muda realmente muito na nossa vida. Para melhor! E quem sou eu para julgar quem quer que seja. Afinal eu não sei nada a não ser que esta experiência fez-me crescer, entender e descobrir melhor a minha essência e a Mulher que sou.
Mas tal qual eu não faço juízos de valor para quem escolhe não amamentar, tenho o direito de exigir que respeitem a minha escolha também. Amamento o meu filho há 13 meses com muito amor, por escolha livre e informada. E para espanto de muitos, sou feliz assim.
Por aqui a velha máxima do nada acontece por acaso é respeitada. Amamentar nunca foi uma opção de múltipla escolha. Li livros, fiz um workshop, sentia-me informada e preparada. À minha volta tinha amigas com casos de sucesso, com acompanhamento pontual. Mas da teoria à prática existe um caminho a percorrer e quis o destino que o meu bebé me mostrasse o nosso.
A amamentação começa antes do bebé nascer, primeiro na nossa cabeça e depois no nosso corpo de mulher que começa a produzir colostro a partir do 2º trimestre de gravidez. Depois vem o parto e com ele a frustração de não ter sido bem aquilo que idealizámos... Não posso dizer que foi traumatizante, mas não foi o parto que idealizei. Quando a Luísa nos pediu para escrevermos a história do nosso nascimento, revi-me em muitas das situações que a minha mãe me contou. Também ela recorda com alguma mágoa alguns procedimentos na maternidade... A mente é poderosa e mais não digo.
O G. nasceu quando quis, às 38 semanas, de parto vaginal, instrumentalizado e com recurso a analgesia. Um bebé lindo, cabeludo e pequenino. Ainda em cima do meu peito colocaram-mo à mama. E ali ficou a explorar durante algum tempo, adormecendo logo de seguida. Levaram-no para vestir e depois nunca mais nos separámos. Já no quarto quiseram verificar se ele estava a mamar bem. Apertaram-me o mamilo, doeu que se fartou. Para mim tu estavas a mamar e prova disso estava no mecónio que saía.
Os problemas começaram já em casa. Será que posso dizer que não sabias mamar? Parece estranho uma coisa que é normal e lógica, não acontecer naturalmente... simplesmente não conseguias abocanhar a mama, ficavas agitado e largavas logo de seguida. Cansado de lutar, adormecias rapidamente. Choravas muito... e eu contigo. Passavas horas na mama, muitas vezes só chuchavas... ficavas exausto. Começou o desespero. Ao fim de 8 dias tinhas perdido 17,6% do peso... com esta “bomba” começaram os comentários infelizes que nada ajudaram a uma mãe de 1ª viagem que estava muito cansada, insegura e impaciente.
Impotência. Era o que eu sentia. “Ah mas o que importa é ele estar bem, com ou sem maminha...”. Pois mas eu só ficaria bem se lhe conseguisse dar o melhor de mim, o meu leite.
Decidi pedir ajuda. Primeiro à SOS Amamentação que deram uma resposta rápida mas que no meu caso não resultou quanto à pega... resolvi ligar à Cristina que já havia conhecido no workshop.
Obrigada Cristina. O meu sucesso na amamentação foi conseguido pela minha persistência, sem dúvida, pelo apoio incondicional do meu companheiro, mas também pelo profissionalismo e pela diferença na abordagem desta mulher.
No primeiro encontro a confiança e a pega foram logo reforçadas. Mas cada vez que o ia pesar vinha lá de rastos. Só passados um mês e 5 dias é que o meu bebé recuperou o peso com que nasceu... regressei uma 2ªvez à Cristina, comecei a tirar leite com a bomba e a dar a seguir à mamada por copo e depois através de sonda nasogástrica . Tudo para evitar tetinas, o importante era pô-lo à mama! A bomba era um mal necessário... foi doloroso e cansativo, eu queria era ter-te junto a mim. A esta altura já a pediatra me dizia que apesar do meu esforço não podíamos deixar este bebé perder mais peso... fui-me abaixo... comecei a dar suplemento de leite artificial.
Ao fim de 1 semana e picos o G. faz uma mega bolsadela, todo o suplemento cá para fora... e foi aí que na minha cabeça ecoou: ele não tinha fome...o meu leite chega, vou conseguir! E foi a partir desse momento que a confiança se instalou, sem lugar para dúvidas ou indecisões. E ele não parou de ganhar peso.
Esta foi talvez das maiores provas por que passei na minha vida. Podem achar exagero mas é o que sinto. E estão no meu pensamento todas aquelas mães que passam por situações idênticas e acabam por não conseguir amamentar. E fica aquele vazio, aquela sensação de dever não cumprido. E foi isso que me levou a fazer uma formação (Amamentar: O mais importante), para poder ajudar, apoiar e dignificar este acto que parece que não combina com estes tempos de mãe moderna, instalada numa sociedade cada vez mais egoísta e centrada no indivíduo. Cabe-nos mudar e resgatar este nosso direito e dever de ser Mulher, Mamífero e Mãe.
Obrigado Marta por partilhares esta história tão parecida com a minha! E graças à experiência da Cristina e da própria segurança que ela nos dá, tudo correu sobre rodas... beijos Marta
ResponderEliminarObrigada Maria!
ResponderEliminarUm beijinho grande*
Maravilhosa historia. Crescemos tanto com isto que e comovente. Beijinhos
ResponderEliminarOlá Marta, ainda bem que existem histórias como a tua e como a de tantas outras Mães... de persistência, de entrega total ao acto de amamentar e de amor incondicional. Obrigada.
ResponderEliminarFantástico parecia que me estava a rever em todos esses sentimentos, para mim tb foi a maior provação da minha vida que consegui vencer, tinha muitas dores nos mamilos, tinha muito leite que a dada altura encaroçou, fazia febre sempre que produzia leite de mamada para mamada, fui parar ao hospital,tive três semana a tirar com a bomba e a dar no biberão até que venci o medo da dor e voltei a por a minha filhota à mama e após dois meses de luta venci e consegui :D sinceramente sem julgamentos, senti-me mãe à séria que tudo faz em prol da saúde e bem estar dos seus filhos...hoje a L. tem 5 meses e ainda mama, come papas e sopinhas e é uma bebé super feliz...assim como eu e o meu marido...os momentos difíceis já fazem parte do passado.
ResponderEliminarUm beijinho
Obrigada a todas pelos vossos comentários :) eu sabia que não estava sozinha...
ResponderEliminarum grande bem haja!
Que estória bonita!
ResponderEliminarA irracionalidade na questao da amamentacao parece subir em flecha derivado do meditaismo que sobretudo na poderosa comunicacao. Sempre que leio artigos ou comentários relativos ao assunto glorifica-se a nao amamentacao mas logo a seguir vem a razao "eu nao conseguia amamentar". E claro que faz todo o sentido nao amamentar quando tal nao é possivel.
No entanto, enaltecer a nao amamentacao por irracionalidade?
É muito comovente e inspirador este teu testemunho! Um beijinho grande Marta ;)
ResponderEliminarOlá Marta, gostei imenso do que escreveste, e percebo-te tão bem quando falas do poder da nossa mente... eu tenho quatro filhos e amamentei todos, na primeira contei com o apoio de uma grande Mãe, que me encheu de força e confiança, O meu quarto filho tem quase 20 meses e ainda mama (bastante), também eu sou feliz assim, por mais estranho que pareça a tanta gente :-) Obrigada pela partilha!
ResponderEliminarhttp://vivertodososdiasaqui.blogspot.pt/
Obrigada pelo teu testemunho Alexandra!
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