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abril 12, 2015

Rir para não chorar - a escolha do jardim de infância

Gostava de partilhar convosco o que me tem tirado o sono nos últimos tempos… a busca incessante por um jardim de infância que reúna alguns critérios que considero básicos para esta nova etapa.

Não tem sido fácil… encontro muitas regras, padrões e fichas! Encontro massificação, autênticos depósitos de crianças e falta de vontade em “fazer diferente”… encontro algumas pessoas que se sentem como eu, mas a maioria resigna-se com a oferta e com os preços… quem pode pagar fica muito feliz com a música, ginástica, inglês… quem não pode, não tem poder para argumentar… confesso que esta “selecção natural” e alguma inércia me tira do sério.

Fiz questão de vasculhar quase tudo na minha área de residência. Desde paróquia a colégio estupidamente caro… nada. Não gosto de nada, nada me transmite confiança. Cheguei a achar que tinha de o levar para Lisboa, mas só de pensar na logística, dá-me vontade de fugir…

Tenho até Setembro para me decidir. Acredito que o que faz uma boa creche são as pessoas que lá trabalham. São com elas que os nossos filhos vão passar a maior parte do dia… são delas que eles se vão lembrar, são elas que vão marcar a diferença. Mas nós não as conhecemos…

Para não se sentirem sozinhos :) reuni um conjunto de factores a ter em conta quando visitamos uma creche ou jardim de infância. São eles:

• Espaço/Ambiente - pode não ser decisivo para alguns pais, mas para mim é. Aspectos que devemos ter em conta: pisos térreos, interiores arejados, com boa disposição solar, luz natural, amplos. A pergunta que podemos fazer é, como me sentiria se passasse um dia inteiro ali? Como sentem o ambiente?

• Ninguém conhece melhor os nossos filhos do que nós, ele sentir-se-ia bem ali? Se é uma criança com muita necessidade de extravasar, ter atenção à dimensão do recreio (exterior) pode ser decisivo.

• Número de crianças, educadoras e auxiliares por sala - muito para além de nos focarmos no número, tentar perceber dinâmicas e rotinas. Saber o horário dos elementos da equipa. Não me interessa serem muitas pessoas por sala se só asseguram almoços e lanches...

• Em relação às rotinas... são feitas planificações antecipadas? Porquê?

• Deve ser feita mais que uma visita e a diferentes horas do dia.

• Tentar perceber se os pais podem aparecer em qualquer altura sem se fazerem anunciar. Se por alguma razão sentirem que vos estão a dificultar o acesso, devem tentar saber o motivo, devidamente justificado.

• Caso existam sestas, saber se são de carácter obrigatório e se existe um espaço destinado em exclusivo às mesmas.

• Observar o espaço é importante, observar as pessoas que lá trabalham é imprescindível.

• Quais são as metodologias e actividades desenvolvidas ao longo do dia, rotinas? existe equilíbrio entre actividade estruturadas e o jogo livre (brincar)?

• Perceber o motivo de selecção de grupos, sejam eles homogéneos ou heterogéneos.

• Como é que fazem a gestão e adequam as actividades às diferentes faixas etárias?

• Procurar esclarecer a diferença entre o projecto educativo e projecto curricular.

• Higiene - Olhos de raio x no refeitório e principalmente nas casas de banho.

• Alimentação - confeccionam menus adequados a crianças com hábitos alimentares específicos? Ementa variada? Pão com tulicreme, sumos de pacote ou sobremesas são do tipo de coisa que não gosto de ver numa ementa... muitas creches dão a possibilidade de levar comida de casa. Explorem as possibilidades, sugiram alterações e decidam em consciência. Admito que este é um dos nossos calcanhares de Aquiles... fico atónita com a inflexibilidade das instituições nesta matéria. Uma família vegetariana por exemplo, encontra escassas respostas que vão ao encontro da sua escolha alimentar... ainda temos muito a fazer nesta matéria.

• Impressão/opinião de outros pais/amigos em relação à creche, sempre com a ressalva de que o que resulta com o filho deles pode não resultar com o nosso.

• Tentar perceber como são aconselhados os pais a agir no período de adaptação/separação da criança.

• Se ainda for o caso, questionar a educadora sobre a abertura para a amamentação, co-sleeping, fraldas reutilizáveis e ainda como têm por hábito fazer o desfralde.

• Em saídas ou passeios, caso as crianças não possam ir por algum motivo, a instituição assegura o dia a essa criança? Como e onde?

• Como age a educadora em caso de conflito entre crianças ou em caso de confronto com o adulto?

• O valor da mensalidade está adequado ao meu orçamento? as actividades/alimentação estão incluídas?

• Necessidade de prolongamento, valor?

• Dias de férias?

Espero que esta lista vos ajude. Desejem-me sorte ;)


novembro 17, 2014

Círculo Perfeito

Butterflies, M.C. Escher 1950







Não podia deixar de falar do Círculo Perfeito. Primeiro um grupo de facebook que chamou a minha atenção e depois um workshop de educação e saúde menstrual dado pela Patrícia Lemos, mentora do projecto.
Cada vez mais interessada na pesquisa pelo feminino, este workshop veio a revelar-se uma lufada de ar fresco, a possibilidade de fazer um reset a escolhas e acções gastas e bafientas. O mais espectacular é como um dia de formação me acompanhou em pensamento, inspiração e reflexão nas semanas seguintes. Harmonia. Sintonia. Corpo.
Aconselho todas as mulheres a percorrem este caminho de descoberta e informação preciosa. É impossível olharmos para o nosso corpo da mesma maneira.
A Patrícia é um poço de informação e uma comunicadora nata. Agradeço-lhe ter-se cruzado no meu caminho (e de outras tantas mulheres) e ter aceite fazer esta entrevista. Obrigada Patrícia!

Conta-nos 1 pouco o teu percurso. Como chegaste até aqui?
Tenho um percurso muito errático em termos profissionais: aquela coisa do faz um curso e trabalha nisso o resto da vida não serve a pessoas como eu. Mas o que é subliminar na minha vida, o que sempre lá esteve, faz com que as pessoas que me conhecem há 20 ou 30 anos digam que o "chegar aqui" era expectável.

Quando estava a estudar Hipnose Clínica fiz uma formação para trabalhar com questões de fertilidade (sempre fui uma apaixonada por estes temas da saúde feminina). Seguiu-se uma outra mais específica para acompanhamento de processos de gravidez medicamente assistida (desde estimulação de ovários, às fertilizações in vitro, transferências de embrião, etc).
Em Portugal continua a existir muita falta de informação relativa à Hipnose Clínica mas a sua utilização nesta área da saúde está bem documentada (os primeiros estudos são conduzidos pelo Dr. Levitas e datam de há 10 anos atrás!) e em 2010 começo a ver mulheres com questões de infertilidade.

E é nesta altura que me começo a aperceber do grau de desinformação geral sobre o ciclo menstrual, sobre o funcionamento do aparelho reprodutor, sobre os factores de risco.

Na altura, estava a colaborar com a Alexandra Pope (uma referência internacional nestes assuntos menstruais) e pensei que talvez fizesse sentido disponibilizar por cá o que estava a ser feito lá fora.

Foi quando dei início aos workshops do Círculo Perfeito, com o objectivo de dar (gosto de acreditar) respostas diferentes às perguntas do costume: corpo, hormonas, emoções, toxicidade, alimentação e o resgatar da responsabilidade de cada uma para viver melhor.

Desde então essa é uma das partes do meu trabalho: a promoção e educação para a saúde menstrual através do Círculo Perfeito (seja em formato wks, através de acompanhamentos pessoais ou (numa versão muito light) através do grupo fechado do facebook) que concilio com a prática da hipnose clínica em diferentes zonas da grande Lisboa, e com a elaboração da tese na área de Risco e Saúde, sobre as representações do corpo e o seu impacto ao nível da fertilidade.

Das centenas de mulheres com quem já te cruzaste, consegues realçar um denominador comum entre elas?
Denominador comum será o facto de não estarem conformadas nem satisfeitas com as respostas que têm obtido até agora.

Mas importa distinguir as mulheres que me chegam para saúde menstrual e as que vêm com diagnósticos de infertilidade ou a tentar engravidar há algum tempo sem sucesso: são públicos com perfis distintos e com necessidades igualmente distintas.

Sendo a educação menstrual um assunto praticamente inexistente e como mãe de uma filha, de que forma podemos gerar mudança nesta área?
Este caminho passa obrigatoriamente pela informação. Parece óbvio, não é? Mas este é um tema sensível porque toca directamente nas questões da sexualidade e aqui entra o dilema da mãe que não querendo ser castradora também não quer a filha adolescente grávida.

É invariavelmente neste momento que surge a contracepção hormonal como garantia de "segurança" para todos - e é exactamente neste momento que o óbvio deixa de o ser.

Porque a pílula não protege contra as infecções sexualmente transmissíveis e ao facilitar a pílula à minha filha sem lhe falar da importância do uso do preservativo na manutenção da sua saúde, estou a desresponsabilizar-me da sua educação sexual e de todas as escolhas que decorram dessa desinformação. Mesmo as que têm impacto menos visível que uma barriga a crescer.

Depois, porque (e falo do universo que me chega) as adolescentes fazem uso inadequado das opções de que dispõe - falham tomas, não terminam caixas, etc. - o que reduz a eficácia contraceptiva, e a sua percepção da mesma, levando a pílulas de dia seguinte como solução mais frequente do que o que gostaríamos de acreditar.
Diz-nos o Consenso para a Contracepção, pelas Sociedades Portuguesas de Ginecologia, Contracepção, etc., que a contracepção hormonal apresenta mais vantagens que desvantagens. A sermos claros, estamos a falar de gravidez adolescente quando falamos de desvantagem. E estamos de acordo. Porém o que fica por explicar é como é que Portugal tem uma das taxas mais elevadas da Europa não só de utilização de contraceptivos hormonais mas também de gravidez adolescente!

Parece simples concluir que alguma coisa aqui está a falhar.

Por fim, lembrar que a maioria das adolescentes portuguesas (e mulheres) não faz exercício físico, fuma, bebe álcool e está acima do peso indicado para a sua idade: tudo factores de risco para a utilização de contracepção hormonal.

Não sou contra a utilização da contracepção hormonal mas sou a favor da informação para a tomada de decisões conscientes e responsáveis. Para que estas possam acontecer, essa informação precisa ser ampla em termos de âmbito e precisa ser clara para me garantir total controlo sobre as decisões que tomo relativamente ao meu corpo.

E para isso também é preciso que eu, enquanto mãe, não feche os olhos ao processo de transformação da minha filha em mulher a quem assiste o direito de viver uma sexualidade plena, saudável e isenta de medo.

Quais são as principais preocupações das mulheres que te procuram?
Quando me procuram trazem sempre um problema/preocupação para resolver: diria que os maiores e mais habituais se prendem com o índice de fertilidade (a decisão de ser mãe cada vez mais tarde traz esta preocupação: "como posso garantir que me mantenho fértil? o que posso fazer nesse sentido?"), com o controlo natural de fertilidade e com a saúde menstrual.

Utilizas a hipnoterapia para controlar a dor no parto. Podes explicar-nos como funciona?
Há 20 anos que os National Institutes of Health, nos Estados Unidos, reconheceram a utilidade da hipnose clínica para o alívio sintomático da dor crónica e esta é, efectivamente, uma ferramenta extremamente eficaz no controlo e gestão da dor em geral.

Em questões de gravidez têm várias aplicações que vão desde o controlo da hiperemesis gravídica (enjoos) até ao virar de bebés pélvicos ou preparação para cesarianas, por exemplo, e por isso criei em 2010 o Programa Gravidez Tranquila.

Quanto à preparação para o parto existem várias abordagens... Aquela com que trabalho passa por técnicas de modulação da dor com o objectivo de permitir à mulher estar em total controlo do momento, desperta e alerta no seu processo, por forma a usufruir ao máximo da experiência de parto. Técnicas respiratórias, utilização do estado de transe para fins de relaxamento, contracção do tempo, etc, fazem parte do processo que somado ao trabalho de parto (que por si já produz um estado alterado de consciência, uma analgesia própria, um tempo-espaço para a mulher parir) resultam em experiências únicas, com mulheres completamente mergulhadas na experiência de parir um filho. Sem medo.

Portanto, não ponho ninguém "a dormir" para tudo parecer um passe de magia :)

A primeira sessão serve para desmontar esses mitos e para ambas (a grávida e eu) aferirmos o que é possível fazer juntas - por isso não tem qualquer cariz vinculativo de parte a parte.

É preciso entender o que faz sentido para aquela grávida e fazer as melhores opções no sentido da sua saúde, com seu perfeito entendimento das suas escolhas.

maio 06, 2014

Comer é divertido – a introdução dos alimentos



Este tema deixa geralmente muitas mães ansiosas… e com razão… os 5 meses de licença deveriam na realidade ser 6, porque só nessa altura é que os bebés estão aptos para receber outros alimentos. Até lá o leite materno é o alimento perfeito.

Uma introdução precoce dos alimentos faz com que o bebé tenha por exemplo, um risco aumentado de alergias, já para não falar na diminuição de produção de leite por parte da mãe… (bebé menos vezes na mama, menos leite produzido) pondo assim em risco a amamentação prolongada até pelo menos aos 2 anos de idade tal como recomenda a Organização Mundial de Saúde.

Os bebés não são todos iguais e alguns começam a demonstrar mais cedo algum interesse pela comida. Esta transição deve ser suave, deixando que a exploração da comida seja guiada pelo bebé. Podem conhecer mais sobre este método de baby-led weaning – BLW aqui. Contudo fica complicado aplicar este método na totalidade quando a mãe regressa ao trabalho e está ausente muitas horas… daí muitas famílias terem de optar por uma versão mista. Foi o nosso caso.

Regressei ao trabalho tinha o G. cinco meses e meio. Para sorte de todos, ficou com os avós, com a sua família. Extrair leite com a bomba era uma tarefa muito penosa para mim, dolorosa até. Por isso resolvemos testar a introdução da sopa e só depois as “papas”. Correu lindamente! Ele adorou e ainda hoje é um bom garfo! Sempre que estava comigo, maminha.

Nesta fase e por entre dúvidas e mais dúvidas decidimos ir a uma consulta de alimentação para bebés com a Eugénia Varatojo do Instituto Macrobiótico de Portugal.

Cá em casa seguimos uma alimentação baseada na macrobiótica por isso o tema não nos era estranho, apenas tinha de ser adaptado ao novo rebento. Gostámos muito da consulta e da simpatia da Geninha.

É importante conhecer as alternativas às papas de compra e aos iogurtes. A maior parte dos pediatras recomenda fórmulas e papas industriais e nós não queríamos seguir esse caminho. Existem inúmeras receitas de papas que se podem fazer em casa com ingredientes controlados. O livro Alimentação vegetariana para bebés e crianças pode ser uma ajuda. Tem receitas acessíveis e adaptadas à idade do bebé. No nosso caso sempre privilegiámos as leguminosas aos invés do seitan, tofu ou outros derivados da soja. Apesar de ainda consumir esporadicamente alguns derivados do leite, como manteiga ou queijo, ainda não introduzimos estes ao G. “O quê não come iogurtes??” Sim, não come iogurtes e não tem falta de cálcio porque come couve, sementes de sésamo e outros vegetais que têm tanto ou mais cálcio que o leite animal. Quanto à carne e ao peixe, não estão presentes no nosso menu diário, comemos esporadicamente e no caso da carne temos especial atenção à sua origem.

É incrível perceber o marketing que se gera em volta da alimentação infantil… e como é fácil cairmos no estigma de sermos diferentes, alternativos e até extremistas porque não queremos que o nosso filho coma bolachas maria (optamos pelas bolachas de arroz)… já alguém se deu ao trabalho de ver as carradas de açúcar que aquilo tem?

É muito fácil alimentar uma criança, ela vai acabar por comer o mesmo que nós e isso, já por si, é uma boa razão para alterarmos alguns hábitos alimentares e comermos melhor. Cortar nos alimentos processados e apostar nos alimentos simples, frescos e da época!

O G. tem actualmente 20 meses, ainda conseguimos controlar o que ele come, quando já nos for impossível, ele vai crescer e fazer as suas escolhas, tal como os pais o ensinaram (assim o espero).

Se este tema vos interessa e vos falta a parte prática então não percam este workshop!

Deixo-vos a primeira receita testada cá em casa: creme de arroz para bebés (de Eugénia Varatojo):

Ingredientes:

1 chávena de chá de arroz integral
1/2 chávena de chá de arroz glutinoso
1 colher de sobremesa de sementes de sésamo
1 colher de sobremesa de feijão azuki
1 tira de alga kombu de 5 a 6 cm de comprimento
5 ou 6 chávenas de água
mel de arroz q.b (eu adoçava com fruta cozida em puré)

Junte todos os ingredientes numa panela, excepto o mel de arroz; deixe repousar cerca de 1h ou mais, se possível, e leve ao lume até levantar fervura. Coloque uma chapa difusora, por baixo da panela e baixe o lume. Deixe cozinhar cerca de 1h. Passe o preparado com a varinha mágica. Retire a quantidade necessária para 1 refeição e adoce ligeiramente com mel de arroz ou maçã/ pêra cozida. Está pronto para dar ao seu bebé.

Sugestão: Vá substituindo o arroz glutinoso por outros cereais como a aveia, cevada, trigo, millet, etc. Os cereais devem ser sempre em grão e biológicos.

Pode preparar a quantidade suficiente para 2 ou 3 dias e conservar no frigorífico, idealmente em frascos de vidro. Vá retirando conforme necessário.

Antes de juntar as sementes de sésamo toste-as, ligeiramente, sem que mudem de cor, numa caçarola e sem qualquer gordura, mexendo sempre. Toste quantidade suficiente para utilizar várias vezes e guarde num frasco.

E já sabem, se o vosso bebé se recusa a comer, talvez esteja a tentar dizer que ainda não está preparado. Dêem-lhe tempo para descobrir o prazer dos alimentos!

Enjoy!